Todos mentem. É assim que o médico da célebre série da TV, o Dr. House, se referia aos seus
pacientes quando não era possível encontrar uma causa tangível para algum sintoma ou progressão inesperada de uma doença. Na vida real, porém, os médicos já estão buscando soluções para esse tipo de falha na comunicação em seus consultórios. Esse tema foi objeto de uma pesquisa realizada por iniciativa do Laboratório Biogen (EUA), e contou com a participação de 5 países (Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Itália e Espanha). Os resultados da investigação foram apresentados no primeiro dia do encontro anual dos Comitês Americano e Europeu para o Tratamento e a Pesquisa da Esclerose Múltipla(ACTRIMS-ECTRIMS), realizado na cidade de Boston (EUA).
Segundo a pesquisa, médicos e pacientes com Esclerose Múltipla (EM) entendem que a comunicação entre as partes é positiva, mas ainda existem obstáculos a serem superados. Participaram do estudo cerca de 1000 pacientes e 900 neurologistas que tratam essa enfermidade. Apesar de ambos os grupos sentirem-se confortáveis sobre os diálogos durante as consultas, existem questões críticas sobre os quais as pessoas acometidas pela doença ainda se sentem constrangidas em falar. E elas se referem às dificuldades sexuais, aos problemas renais e intestinais, às oscilações do humor, além do declínio cognitivo e os revezes da memória e da concentração. Esses sintomas e os demais característicos da patologia têm um forte impacto na qualidade de vida dos pacientes e interferem em suas relações pessoais e profissionais, nos momentos de lazer, nas emoções, entre outros.
Medo de ser um paciente difícil
A pesquisa revelou que os neurologistas têm consciência dessas dificuldades, mas lhes falta tempo durante as consultas para obter maiores detalhes sobre as queixas omitidas por seus pacientes. Estes, por outro lado, retêm informações porque receiam ser julgados como “pacientes difíceis”.
Durante a conferência para apresentação dos dados coletados, Til Menge, neurologista do Centro de Neurologia e Neuropsiquiatria do Heinrich Heine Hospital, da Universidade de Dusseldorf (Alemanha), sugeriu uma solução para quebrar a barreira do silêncio entre os pacientes: “Apesar do arsenal de informações disponíveis na internet e do contato via email
ou smartphones, nós sabemos que o que funciona é o olho no olho. Enquanto o paciente está falando podemos observar também seu discurso oculto. Talvez uma saída para ambas as partes seja disponibilizar um questionário. As respostas seriam mantidas em seus prontuários para uma próxima consulta e nos ajudaria a abordar tais questões”.
Conte-me tudo, não esconda nada
Já Nancy Law, vice-presidente executiva do departamento de Programas e Serviços da Sociedade Nacional de Esclerose Múltipla (EUA), também presente ao evento, propõe que,
após as falas principais do paciente, o médico deve acrescentar a seguinte frase: conte-me mais. “ Isso abre um leque de possibilidades para que o paciente se sinta à vontade para falar sobre suas reais preocupações. Só assim poderemos ajudá-lo ainda mais”. A especialista acrescenta que, na verdade, o maior receio dos pacientes com EM é falar sobre a eventual progressão negativa da doença e como será suas vidas após essa determinada fase. O fato é que, seja para uma parte, seja para outra, quanto maior for o nível de informação, melhor. Pacientes de EM podem esperar até 10 anos para receber um diagnóstico correto e, por isso, têm de fazer do tempo um aliado.
Fonte: Revista Viva Saúde/UOL
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